segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

2017 - O (meu) Ano da Aceitação

2017 foi um ano daqueles no mundo todo! Poucas vezes vi tanta gente torcendo tanto pro ano acabar, pra situação melhorar, pra vida mudar. De fato, não foi um ano muito bom pro mundo. Uma onda conservadora cada vez mais vigorosa, escândalos e mais escândalos de corrupção no Brasil, lei anti-aborto, quase adeus ao Estado Laico e pela primeira vez na minha vida eu pensei de verdade em ir embora daqui pra não voltar.

Claro que isto tem bastante a ver com o mundo e o que eu vivo dele. Mas também tem muito a ver comigo, dentro de mim.

2017 pessoalmente foi um dos melhores anos de minha vida. Talvez até o melhor. Não que não tenha tropeçado em pedras pelo caminho ou que tenha sido tudo flores; não foi. Mas eu nunca estive tão orgulhosa de mim quanto estou neste ano. Caraca, sem falsa modéstia, este ano eu me tornei um mulherão da porra!

Passei por uma grande crise a respeito de mim mesma, ocasionada por desencontros e falta de maturidade, mas que por fim, foi completamente baseada em medo e insegurança. Sem confiar em mim, entrei num buraco muito fundo, rejeitando a mim mesma, me sentindo, literal e metaforicamente, alguém que não era digna de receber amor, e que não era capaz de se encaixar em nenhum contexto. Justo eu, que sempre me vi como uma princesa. Pra provar que todos são de carne, osso e uma infinidade de sentimentos.

E este foi o estopim da mudança, pq como eu costumo dizer, quando se está no fundo do poço, a única alternativa é subir. Caraca! E não foi fácil. Eu me senti muito solitária. Me senti muito incompreendida. E olhando hoje eu vejo o quanto fui boba e infantil por me sentir assim. Hoje percebo o quanto eu estava cercada de pessoas maravilhosas o tempo todo e que eu nem deveria ter me preocupado; eles jamais deixariam ou deixarão no chão. Amigos; vcs são os melhores do mundo! Cada qual com o seu jeito, cada qual com sua interpretação da vida, cada qual com as suas próprias palavras. Vocês me reergueram e me deram a coragem pra tornar esta queda um verdadeiro passo de dança!

E foi assim que eu decidi, como uma alternativa para um cenário de dor, realizar alguns sonhos. Correr finalmente uma maratona, fazer fotos quebrando tabus e reformar meu apê!

Estas decisões podem parecer a você, caro leitor, algo deveras simples. Mas pra mim, foram divisores de águas. Decidir me tornar uma maratonista me deu uma força que eu desconhecia. Eu vivi muitas lágrimas; de dor, de medo, de cansaço, de alegria. Mas enquanto eu estava ali treinando, eu era a Mulher Maravilha. Eu era capaz de tudo, aguentaria qualquer coisa, eu me sentia imbatível. Minha vida ganhou um propósito mágico, íntimo e engrandecedor. Me tornar uma maratonista me transformou pouco a pouco, quilômetro a quilômetro. E eu só posso agradecer por ter me arriscado nesta jornada e por quem esteve comigo direta ou indiretamente. A emoção vem aos meus olhos ao lembrar daquele momento, e especialmente pensar no quanto eu cresci, mudei e evolui.

Foi neste ano também que eu resolvi tirar a roupa para a lente de uma fotógrafa excepcional, e com as roupas, tirei também vários tabus, receios e inseguranças. Nua eu fui eu mesma, me curti, me aceitei e me afirmei enquanto mulher - para deixar muito claro que ninguém deve lhe determinar o que fazer. Foi muito mais do que uma sessão de fotos, foi um presente pra mulher que eu permiti que desabrochasse dentro de mim. Lindo!

E aí a vida se apresenta, cheia de revés. Logo após está enxurrada de alegrias eu tive uma lesão séria, um vacilo, que me tirou de todo e qualquer esporte por vários meses, que me obrigou a fazer muita fisioterapia, que me fez questionar as minhas ações e as minhas escolhas, que me botou na sarjeta e que por fim me presenteou com uma grande lição; eu sou muito mais que uma corredora; eu sou uma pessoa! Complexa, incompleta, com diversas facetas e que teve que aprender a lidar com um bumbum caído, uma barriguinha saliente, um corpo mais fraco, com a ansiedade de estar 100%, e mesmo assim se aceitar, se cuidar e se amar. Eu aprendi que sou mais do que a minha aparência (apesar de sim, ser muito vaidosa e completamente viciada em endorfina) ou minhas habilidades; eu sou também as minhas falhas, sou as minhas imperfeições, sou uma pessoa comum e me amo ainda mais por isto! Talvez eu nunca tivesse me sentido tão real ao longo destes 30 anos como me sinto hoje.

E para completar, em meio a isto tudo, duras escolhas de abrir mão do sonho da vida a dois para me refazer e me reestruturar. De apostar alto, gastar mais do que eu tinha, me jogar dentro de mim, erguer a cabeça pra coroa não cair, mesmo que a trajetória dali pra frente fosse um pouco mais individual. Um grande pânico de estar fazendo a escolha errada, mas também com os meus apoios vitalícios me guiando, amparando e acalmando.

Por fim eu estou aqui, ainda lesionada, mas muito realizada afetivamente 💖, radiante diante da concretização de tantos sonhos, me aceitando e me amando cada dia mais e feliz por compreender que em 2018 eu pretendo evoluir e mudar muito, mas que eu já gosto bastante de quem mora aqui dentro de mim!

sábado, 14 de outubro de 2017

Especialidade: Colorir

Finalmente eu tomei coragem e vou falar sobre mudanças profundas dentro de mim.

Primeiro cometi um grande erro de não separar um momento para escrever sobre uma das maiores felicidades de minha vida com toda a emoção que esta conquista mereceu. Mas tudo bem, eu sei que eu estava vivendo isto intensamente e vou tentar falar um pouco hoje sobre ter me tornado Maratonista.

Correr uma maratona tem sido um sonho desde que comecei a correr. Aquela meta que temos na cabeça e que vem sempre acompanhada da frase "um dia eu faço". E perto do meu aniversário deste ano eu decidi; o momento havia chegado e eu treinaria para realizar isto.

Foram 4 meses de preparação. Intensos, loucos, doloridos, mas imensamente felizes. Superação certamente é uma palavra que acompanha todos os corredores de longas distâncias. Treinar firme dia após dia, guardar a dor no bolso e especialmente colocar o mundo no mudo para escutar apenas o próprio coração. Estas foram só algumas das inúmeras coisas que a Maratona me ensinou. Eu sou uma nova pessoa depois disto, mas hoje eu não quero falar apenas de maratona, eu quero falar de outro tipo de superação que eu precisei viver nos últimos meses; a superação de não poder ser o seu melhor.

Os que me conhecem sabem o quanto sou uma pessoa empenhada. Diariamente travo batalhas comigo mesma para ser alguém melhor. Mais inteligente, mais reflexiva, mais bondosa, mais disciplinada. Eu amo evoluir, amo aprender. Isto é o que faz meu coração vibrar, isto me motiva e isto faz as minhas cores cintilarem.

O meu drama atual é simplesmente por não conseguir nem tentar isto. Após realizar um dos meus grandes sonhos e correr a minha primeira maratona abaixo de 4 horas, eu comemorei, e muito! E decidi que faria uma maratona abaixo de 3'30''. Eu queria começar ali, naquele momento. Queria pq é mágico encontrar a sua resposta, e saber que a minha estava ali, disponível, para que eu calçasse o tênis e a alcançasse, me fez ferver por dentro. E foi assim que os meses seguintes se tornaram tão duros.

Durante a preparação para a Maratona eu tive uma lesão de glúteo médio, e cuidei dela o máximo que pude, com o auxílio de excelentes profissionais me dando suporte. Deu tudo certo, mas na primeira semana de retorno aos treinos, eu tive uma outra lesão; uma distensão no ísquio-tibial. Provavelmente pelo volume excessivo, sobrecarga diante da lesão anterior, inúmeros motivos que eu conheço bem agora. Não tive um rompimento de fibras, mas uma distensão muito severa que ainda está me fazendo uma desagradável companhia.

Algumas semanas depois, eu cai de cara no chão no corredor de casa. 5 pontos no queixo, uma semana de molho e uma cicatriz para não esquecer. E depois, em virtude dos remédios, uma gastrite. E desde então buscando recuperar o que possuímos de mais precioso; saúde.

Por alguns dias, eu pensei que fosse enlouquecer. Endorfina faz parte de mim, da minha rotina, do meu bem-estar. Me exercitar faz com que eu me sinta capaz, forte física e psicologicamente, me faz uma pessoa melhor. Assim como comer bem, como toda a vida saudável que eu criei para mim. E estar dentro disto, mas ainda assim fora, quase me fez entrar em parafuso.

Mas dentro de mim há uma Cinthia muito cintilante. Que acredita que o mundo é de dentro pra fora e que a vida é da cor que a gente pinta. E foi assim que eu mudei o caminho. Com muitas lágrimas, suor, inteligência e amor. Se eu não podia correr, eu poderia nadar. E se eu não podia treinar com intensidade, eu podia colocar a minha energia em algum outro sonho, como decorar e mobiliar meu pequeno castelo. Se eu não podia gastar meu tempo me tornando melhor no esporte, eu podia ler e aprender, preenchendo este espaço com outras tantas coisas que posso me aperfeiçoar e que também me fazem feliz. 

E hoje, três meses depois de realizar um grande sonho, eu tô aqui, aprendendo a olhar a vida com mais carinho e paciência, agradecendo por ser quem sou e por estar rodeada de pessoas que valem tanto, e feliz por mais uma vez perceber que a vida é da cor que a gente pinta e que sou uma especialista em colorir.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Beauty Surface

Ciente que já perdi a hora da corrida amanhã e que terei que treinar sob sol de rachar, escrevo este post que há tantos dias venho tentando.

No começo ele estava cheio de dor, mas agora, depois de algum tempo e muita reflexão, ele tem bem mais alívio.

Estou em uma fase bem desleixada da vida. Eu pensei em dizer relaxada, mas seria uma visão positiva demais. Adoro estar relaxada e não é bem isto que sinto agora. Estou ainda um pouco tensa, cheia de obrigações que me propus. Mas abandonei algumas e especialmente alguns estigmas que estavam me ferindo demais. Eu, que sempre fui uma insegura-positiva, coloquei energia demais tentando me encaixar em uma ou várias formas que não me cabiam. Em vários conceitos que não diziam respeito a mim. Em uma pauta que eu não era a redatora. Eu fiz isto em muitos momentos da vida, como os amigos mais chegados sabem, mas os últimos tempos foram (bem mais) pesados. Eu tentei ser coisas e pessoas demais, que eu não era, e o único resultado que obtive nesta busca insana foi esmaecer e deixar um pouco de ser eu. Eu, tão colorida e divertida, também tenho um dark side, e este lado sempre tenta agradar, corresponder as expectativas, brilhar arrebatadoramente; tudo para se sentir boa o bastante para receber amor.

Talvez o leitor imagine que sou uma tola; "Amor é de graça Xin! Acorda!". Eu sei. Juro que sei. E eu repito isto pra mim todos os dias. Mas nem sempre é fácil se aceitar. Nem sempre é facil entender que a vida é de fato um cobertor curto e sendo você, com defeitos e qualidades ímpares, você não será o outro.

Hoje me olhei no espelho e tive a certeza que precisava escrever; minha barriga não está definida, estou gordinha pq estou comendo sem pensar muito no plano alimentar. Minha sobrancelha está por fazer, bem como minhas unhas. Não estou depilada, não trouxe belas roupas para a viagem, não tirei nenhuma self no parque esta semana. Não estou me sentindo bonita, e resolvi me permitir isto também; eu não preciso ser bonita o tempo todo. E na realidade, eu não preciso ser nada e nem ninguém. 

Esta é minha grande lição do momento e há algo de muito profundo nisto; há eu mesma, imperfeita, incompleta e verdadeira.

E, dependendo do ponto de vista, isto pode ser bem mais belo =)

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Vida Corrida

Quando você decide começar a correr talvez você ainda não se dê conta da dimensão do mundo no qual você está embarcando. Quando você começa, um par de tênis e muita vontade parecem ser o suficiente. Parece que você não irá precisar de GPS, de acessórios ou lugares específicos. No início, você não tem a menor idéia de que encontrará pelo caminho preguiça, cansaço, lesões ou falta de tempo. E nem imagina que a corrida será como um relacionamento, onde seu grande amor vez ou outra, será entediante, chato e moroso. Quando começa, você não faz idéia que para sustentar esta paixão você terá que abrir mão de muita coisa, e nem imagina que muitos dias você terá que acordar mais cedo do que o sol. Você nem pensa que muitas vezes irá doer, e que de modo geral não será nem um pouco fácil.

Mas quando você escolhe a corrida como esporte você já está ciente disto tudo. Ciente que às vezes terá sol de rachar, que às vezes terá chuva torrencial e que incontáveis vezes haverá vento enrigelante e contra você. Você já sabe que de vez em quando você irá correr de luvas, que em alguns dias viseira nenhuma ajudará suportar o calor, e está preparado por saber que mais dia ou menos dia surgirão assaduras de suor, bolhas nos pés ou cortes de frio. Quando você finalmente escolhe, sabe que haverão muitos momentos em que a cama quente será a sua pior inimiga e também sabe que em alguns outros um copo de água o seu maior sonho. Você tem consciência que muitas festas estarão boas, mas que mesmo assim você terá que dizer tchau bem cedo, com aquele bom e velho discurso de gente chata: amanhã eu tenho treino. 

E você continua. Volta após volta, quilômetro após quilômetro, manhã após manhã.

O que muda de quando você começa a correr até quando você se torna um corredor apaixonado é a escolha. É a certeza de que tudo isto vai acontecer e mesmo assim você quer continuar. E aí percebe que aquele par de tênis e aquela grande vontade continuam sendo as únicas coisas essenciais para que você não pare.

Diariamente eu me pergunto pra que eu corro, e diariamente eu obtenho a mesma resposta: eu não conheço nada que me traga tanto pra dentro de mim. Por que o meu coração bate no rítmo do meu pace e por que a vida faz muito mais sentido quando eu calço meus tênis e corro literalmente atrás dos meus sonhos.