sábado, 30 de maio de 2020

Pandemia e Resistência

Ultrapassei 70 dias de isolamento social. 

Cada dia que passa vejo mais facetas dentro de mim e descubro mais do mundo. Sei que sou afortunada pois mesmo em meio ao vendaval ainda tenho emprego, um lar, divido o meu tempo com a pessoa mais incrível que conheço. Nada de essencial me falta e por isto faço questão de seguir o isolamento à risca. Nenhuma corridinha no bairro, nenhuma visita aos parentes ou amigos, nenhuma desculpa esfarrapada pra ir ali ou acolá. Resignadamente permaneço em casa pelos que não podem permanecer. Como meu pai, auxiliar de enfermagem em um hospital público e dia sim dia não veste sua armadura frágil de avental e máscara e vai pra linha de frente desta batalha.

Sei que sou afortunada, pq tenho o privilégio de manter minha psicoterapia de forma virtual, pq tenho conhecimento e saúde para manter alguma rotina de exercícios e pq os meus cinco familiares que testaram positivo para o corona vírus estão recuperados e saudáveis, incluindo a minha vózinha de 89 anos. Se isto não é privilégio, não sei o que é. Agradeço. Talvez de uma maneira que ainda nem sabia agradecer até então.

Mas mesmo sendo tão afortunada e com o coração repleto de gratidão, eu sangro. Sangro por ver nosso país cultuando a ignorância. Por ver colegas, familiares e conhecidos negando a ciência. Sangro pelo descaso do Governo Federal para com as vidas de tantos brasileiros. Sangro pelo egoísmo de quem continua a circular sem necessidade e também sangro pelos que não tem outra alternativa. Me dói muito profundamente o que estamos vivendo.

E apesar das dores, sigo. Sigo pois fomos feitos de resiliência. Resisto em minhas leituras, meus estudos, em meus vídeos e filmes. Resisto em minhas plantas e minhas fotos. Resisto no amor que semeio. Na minha atitude que não quer mais agradar a todos e sim ser autentica e verdadeiramente eu. Resisto quando medito, quando respiro, quando tranpiro, quando escrevo. Resisto quando luto por um mundo com menos caridade e mais igualdade.

O isolamento social me dilacera com a ausência dos abracos, dos carinhos, da segurança e dos aconchegos. Mas me enriquece em minha capacidade de olhar pra dentro e encontrar luz. De acolher todas as Cinthias que existem em mim e encontrar motivos para me manter de pé.

Resistam meus amigos. Fiquem em casa o quanto puderem. Sejamos uma corrente do bem.