terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Dez Anos de Firma

Quando criança eu ganhei um Atlas e uma enciclopédia chamada Conhecer Por Dentro. Eu passava dias brincando sozinha com estes livrões, exercitando a minha imaginação, em devaneios sobre como era o mundo naquele pedacinho de chão do outro lado do mapa ou como era a vida dentro de um submarino ou uma espaçonave.

Cresci lendo livros que contavam histórias em cidades, reinos e países distantes. Com paisagens que eu nunca havia visto, por caminhos que eu não fazia ideia de como eram percorridos.

Nas vezes em que eu passeava de carro meus tios, quase não piscava os olhos quando íamos para bairros mais centrais à noite, cheios de prédios e luzes, tão diferentes do bairro onde eu morava. E quando fazíamos viagens até a praia, eu costumava dispensar as brincadeiras e lutava pelo assento da janela pois gostava de ir olhando o trajeto.

E sendo assim, acabei sendo uma adolescente que ambicionava conhecer o mundo. Queria muito mais do que a vida que eu levava e conhecia. E provavelmente por isto, e por uma força sempre indomável dentro de mim, eu aceitei com intensidade e curiosidade todas as oportunidades que a vida foi me oferecendo.

Escrevo este texto para comemorar meus 10 anos de Firma. Dez anos em que eu adentrei uma jornada de autoconhecimento, travestida de emprego público, onde eu conto pra menina que fui que eu realizei o sonho dela; eu vi o mundo. Eu vi o mundo em várias de suas formas. 

Foram estradas, rodovias, ruas, vielas e pirambeiras. Foram paisagens de enrijecer os ombros e outras de tirar o fôlego. Foram cidadezinhas praticamente sem ninguém e também imensas conurbações. Estive em lugares exclusivos onde precisei pedir autorização e fui acompanhada a cada instante e também favelas, onde senti meu andar ser vigiado a cada passo. Me perdi olhando montanhas, rios, lagos, árvores, praias, parques, comunidades, emaranhados de pistas e de pessoas. E me encontrei voltando pra casa depois de tantas profundas sensações.

Corri, treinei, trabalhei, comi e dormi em mais locais do que eu seria capaz de contar. Celebrei momentos e vitórias. Morri de medo mais vezes do que sou capaz de lembrar. Estive sozinha e acompanhada. Chorei muito mais do que eu achava ser possível.

Contei os minutos para voltar pra casa diversas vezes, mas também fiz longas pausas onde quis parar o tempo e torci para que aquele momento jamais acabasse.

Foram dez anos vendo o mundo cara a cara, sem filtro, sem delongas; do jeitinho que ele é. E é por isto que eu conto com orgulho pra aquela Cinthia-menina que eu realizei o sonho dela. Que eu vi muito mais do que imaginava existir. Que eu não aceitei apenas ouvir de alguém como o mundo era, eu fiz questão de ver com meus próprios olhos. E eu só tenho uma coisa pra dizer: o mundo é diverso.

Gratidão pelos últimos 10 anos. Trouxe também machucados e cicatrizes, mas tenho certeza que nada foi em vão.

terça-feira, 19 de julho de 2022

All Package

Nos últimos tempos, por razões diversas, eu andei pensando muito a respeito da minha trajetória na vida. Olhando pra minha jornada com o carinho que ela merece, sabe?

Pensando nos tantos medos que eu tive e superei. Nos desafios que permearam tantas áreas e foram pauta de tantas aventuras. No orgulho que sinto pq nem em meus sonhos mais criativos e delirantes eu teria alcançado tanto. Esta reflexão me dá uma força imensa para seguir em frente com mais coragem e até mesmo mais audácia. Pq sim, eu levei alguns golpes, tomei alguns tombos, mas levantei e segui em frente, construindo um caminho que considero lindo e fazendo isso do meu jeito.

De vez em quando lembro com tristeza de comentários que quase me fizeram desistir. A maior parte deles de colegas ou amigos, talvez até bem intencionados, tentando alertar ou aconselhar. De que o momento não era bom. Que meu conhecimento ou a quantidade de tempo ou dinheiro que eu tinha não eram suficientes. Que eram erros ou riscos desnecessários. Mas volto a ficar feliz quando lembro que tive inteligência e confiança o suficiente para abaixar o volume da voz deles e aumentar minha voz interna. Olho pra trás na certeza que ninguém nunca vai saber das tuas necessidades e ambições melhor do que você mesmo.

Eu olho pro futuro apavorada por não ter idéia do que virá pela frente. E sempre foi um pouco assim. Mas sigo convicta de que apesar de nunca ter sido uma menina destemida, eu me tornei uma mulher forte e corajosa. Do tipo que inúmeras vezes sem saber se era possível, ainda assim foi lá e fez.

Com carinho e respeito agradeço a Cinthia que me trouxe até aqui. Com todas as potencialidades, com todos os defeitos, com a bagagem inteira. 

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Por hoje, um bom trabalho

Eu tenho sentido uma crescente ansiedade nas últimas semanas, especialmente nos últimos dias. Algo tão forte que às vezes não consigo me concentrar no que estou lendo e até para conversar preciso fazer um esforço extra, mesmo quando o assunto me interessa. Está muito difícil permanecer no momento presente e depois de muito refletir, acho que estou entendendo o porquê.

Eu tinha o plano de sair do meu emprego. De me retirar daquele medo e situação insuportável que estava me dilacerando. Eu estava cada dia mais quebrada e pra ser sincera, nem era mais uma questão de escolher sair, era uma questão de tempo pq se eu não parasse, eu ia sucumbir. Sou uma pessoa extremamente resiliente e com a licença poética de uma maratonista, posso dizer que eu já tinha cruzado meu limite há um bom tempo.

No calor do desespero fazia bastante sentido acreditar que eu era capaz de ganhar dinheiro voltando a dar aula e com a fotografia. Era aquela tábua da salvação na qual eu precisava me segurar para aguentar firme. Acreditar que havia uma saída, um jeito. E foi o que me manteve de pé nos últimos meses de trabalho presencial. E a terapia. E meu companheiro. E meus amigos. E tudo o que eu tenho de bom e sou grata na vida.

E assim a Under My Skin nasceu e por um ano inteiro, eu dei o meu melhor pra ver este sonho sair do papel. E ele saiu lindo, pomposo e fez mais um monte de pessoas felizes ao meu redor. Me trouxe orgulho em ondas e muita vontade de seguir evoluindo e aprendendo.

Mas agora que a emoção dos primeiros passos se foi e o conforto do trabalhar em casa veio, me pergunto constantemente se sou capaz de fazer dinheiro de verdade com a fotografia. O suficiente para me sustentar. O suficiente para continuar tendo a vida maravilhosa que conquistei. A preocupação sobre o que vou fazer daqui há algum tempo quando o trabalho presencial retornar tem me atormentado. E o que eu sinto é que eu precisava estar com tudo resolvido hoje, agora. Com todas as respostas, com o plano financeiro, com o negócio em andamento, preparadíssima para dar aula e tudo mais. E eu fui aumentando a cobrança em mim mesma, algo que não é novidade pra ninguém. Entender que sair do meu emprego só depende de mim, do meu esforço para fazer os planos e o futuro acontecerem, está roubando a minha presença no presente. Está roubando meu sono e meus respiros.

Eu não quero que isto aconteça. Se gosto tanto assim da minha vida, quero estar presente e viver ela por inteiro. E quero acreditar que apesar de não ter as respostas para os problemas que virão, eu serei capaz de criar soluções inteligentes e funcionais quando eles surgirem. Eu preciso acreditar que darei conta do inesperado, pq a vida é simplesmente cheia de surpresas e muitas delas são maravilhosas. A Cinthia de alguns anos atrás não seria nem capaz de sonhar com a quantidade de coisas fabulosas que me aconteceram nos últimos anos e eu quero honrar aquela menina que não desistiu, aproveitando cada instante do sonho que ela construiu e conquistou. 

Muitas coisas que não sou capaz de prever e controlar irão acontecer nos próximos tempos. Ah! Como isto me aflige! Eu queria do fundo no meu coração sentir e saber que estou preparada, mas não creio que seja possível. Então vou tentar me contentar e me acalmar com a idéia de que, por hoje, eu estou fazendo um bom trabalho.

sábado, 30 de maio de 2020

Pandemia e Resistência

Ultrapassei 70 dias de isolamento social. 

Cada dia que passa vejo mais facetas dentro de mim e descubro mais do mundo. Sei que sou afortunada pois mesmo em meio ao vendaval ainda tenho emprego, um lar, divido o meu tempo com a pessoa mais incrível que conheço. Nada de essencial me falta e por isto faço questão de seguir o isolamento à risca. Nenhuma corridinha no bairro, nenhuma visita aos parentes ou amigos, nenhuma desculpa esfarrapada pra ir ali ou acolá. Resignadamente permaneço em casa pelos que não podem permanecer. Como meu pai, auxiliar de enfermagem em um hospital público e dia sim dia não veste sua armadura frágil de avental e máscara e vai pra linha de frente desta batalha.

Sei que sou afortunada, pq tenho o privilégio de manter minha psicoterapia de forma virtual, pq tenho conhecimento e saúde para manter alguma rotina de exercícios e pq os meus cinco familiares que testaram positivo para o corona vírus estão recuperados e saudáveis, incluindo a minha vózinha de 89 anos. Se isto não é privilégio, não sei o que é. Agradeço. Talvez de uma maneira que ainda nem sabia agradecer até então.

Mas mesmo sendo tão afortunada e com o coração repleto de gratidão, eu sangro. Sangro por ver nosso país cultuando a ignorância. Por ver colegas, familiares e conhecidos negando a ciência. Sangro pelo descaso do Governo Federal para com as vidas de tantos brasileiros. Sangro pelo egoísmo de quem continua a circular sem necessidade e também sangro pelos que não tem outra alternativa. Me dói muito profundamente o que estamos vivendo.

E apesar das dores, sigo. Sigo pois fomos feitos de resiliência. Resisto em minhas leituras, meus estudos, em meus vídeos e filmes. Resisto em minhas plantas e minhas fotos. Resisto no amor que semeio. Na minha atitude que não quer mais agradar a todos e sim ser autentica e verdadeiramente eu. Resisto quando medito, quando respiro, quando tranpiro, quando escrevo. Resisto quando luto por um mundo com menos caridade e mais igualdade.

O isolamento social me dilacera com a ausência dos abracos, dos carinhos, da segurança e dos aconchegos. Mas me enriquece em minha capacidade de olhar pra dentro e encontrar luz. De acolher todas as Cinthias que existem em mim e encontrar motivos para me manter de pé.

Resistam meus amigos. Fiquem em casa o quanto puderem. Sejamos uma corrente do bem.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

2019 - Dores, crescimento e autocompaixão

2019 foi um ano difícil pra mim.

Eu vim de uma sobrecarga emocional enorme de 2018, que inclusive dividi aqui. Até 2018 eu me considerava a Mulher Maravilha. Achava que eu sempre ia dar conta, acordava mais cedo, ia dormir mais tarde, aproveitava todos os intervalos. A minha recompensa era realmente dar conta deste tudo tudão que eu julgava tão importante. A minha vida foi por muitos anos uma grande corrida contra o tempo. E eu me sentia útil, importante e especial quando esta conta fechava. Mas de vez em quando a conta não fechava, e eu me punia. Me cobrava. Me considerava incapaz. Doía bastante.

Por muito tempo eu não soube lidar com as falhas. Na realidade eu as rejeitava, fingia que elas não existiam. A minha resiliência me fazia tentar novamente no dia seguinte e por fim, tudo acabava "dando certo". Coloco entre aspas por que uma hora a conta chegava. Sempre chega.

Depois de passar por um grande período de orgulho de mim mesma, das minhas conquistas e de minha trajetória, as coisas ficaram meio insustentáveis, especialmente por que eu insistia em fazer tudo da forma com a qual eu sempre tinha feito, como uma receitinha de bolo.

Enfim, eu comecei a não dar conta. E também aquela correria foi deixando de fazer sentido. Eu mudei o meu ritmo e tudo mudou com isto. Eu passei a gostar cada vez mais do meu tempo sem fazer nada, passei a querer fazer tudo com mais calma, passei a gostar mais da contemplação. Alguns podem pensar que isto foi culpa da cannabis. Nem nego, até que pode ser. Mas o fato é que eu enxerguei valor nos detalhes quando eu passei a desacelerar, a apreciar coisas que na pressa eu nem via e assim, a vida que eu levava passou a fazer cada vez menos sentido.

Bem, chegou a mim uma boa alma, uma das minhas melhores amigas, a princesa com quem eu divido meus giz de cera de colorir a vida e me deu a mão. Me mostrou que eu precisava de ajuda e que eu precisava mudar algumas coisas no caminho. E assim se desenrolou o começo da minha nova forma de ver a vida, com a terapia.

Tudo isto em 2018, e eu levei 2019 inteiro para entender de verdade tudo o que tinha acontecido.

2019 foi um ano de reflexão e resgaste de mim mesma. Um ano dolorido, onde eu me testei, onde eu me perguntei, onde eu me descobri. Mas foi o ano em que eu fui sincera comigo mesma ao extremo, onde eu joguei muita coisa fora, incluindo relacionamentos que já não faziam mais sentido. Um ano de coragem.

Foi o ano em que eu mais exercitei a minha tolerância comigo mesma, até pq, se eu não aceitasse minhas falhas neste ano tão duro, eu não teria conseguido chegar ao fim dele. Foi um ano em que pela primeira vez na minha vida eu quis deixar de viver, e isto é tão difícil de admitir para uma princesa colorida que, ao escrever, eu sinto um misto de orgulho e vergonha pelo meu processo e pela pessoa que eu venho me tornando.

Em 2019 eu tive vontade de esfregar os fatos na cara de um monte de gente. Os fatos políticos também, é óbvio, mas nem é só deles que falo. Tive vontade de mostrar pra um monte de gente o quão hipócrita elas eram, o quão egoístas ou levianas. Mas não fiz nada disto (ou talvez tenha feito bem pouquinho, vai). Eu aprendi com estas experiências e passei a respeitar mais a trajetória e o aprendizado do outro, assim como também a me colocar no lugar dele. Exercitei muito a compaixão e a autocompaixão.

Eu nem teria como negar que eu sucumbi em 2019 e que parte de mim morreu. Mas eu também não teria como negar que eu cresci um bocado, que algo também nasceu. Que eu priorizei a minha saúde mental, que cada dia que passa eu sou mais autêntica, mais verdadeira e mais dona de mim.

Eu finalmente estou encontrando respostas para muitas das minhas dúvidas, mesmo que elas não sejam exatamente as que eu gostaria de ouvir. Relendo meus textos antigos, vejo o quanto o meu processo e o meu progresso fazem sentido. O quanto eu estou nesta caminhada há bastante tempo. Vejo que estou juntando coragem para dar um salto pro qual eu nunca estarei preparada, mas que eu tenho cada dia mais certeza que preciso dar.

Eu tô bem mais sensível em minhas emoções, mas também tô bem mais leve. Eu nunca fui tão eu quanto sou hoje.

Eu espero que 2020 seja um ano de mais "quentinhos no coração". De pertencimento, de amigos, de boas notícias, de solidariedade, de conquistas, de amor. Um ano mais doce, menos desafiador emocionalmente, mais tenro. Eu adoro montanhas russas, mas acho de verdade que chegou a hora de descer e pegar uma Maria Fumaça pra um passeio tranquilo em meio das árvores.

Estou convicta que quero mais saúde e mais paz.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

2018 - Aqui jaz uma velha Cinthia

E 2018 finalmente teve fim!

Caraca, sei que eu sempre faço a retrospectiva do ano priorizando o que houve de bom, as grandes lições, as evoluções sociais e pessoais. E neste ano não será diferente, mas que o ano foi pesado, ah isto foi.

Eu já comecei 2018 meio atrapalhada nas idéias. Investi tempo e dinheiro em pról de voltar para o meu lar doce lar durante boa parte de 2017 e na virada do ano eu já estava aqui, na minha janela favorita, com tudo no lugar e feliz por saber que com esta paz no coração eu poderia finalmente olhar para outros aspectos da vida e permitir que o meu trajeto continuasse.

O que eu não esperava é que já teria tropeço logo cedo. Atipicamente eu decidi, em cima da hora, desmarcar a comemoração do meu aniversário. Quem me conhece sabe o quanto eu priorizo este momento e o quanto eu adoro fazer aniversário. Mas eu percebi naquela época já que as amizades estavam diferentes, que o meu interior não estava em paz, que não era aquilo que eu queria e com muita coragem eu desmarquei tudo, mesmo já tendo até enviado o convite.

Depois disto eu me dediquei quase que completamente ao campeonato do Ícaro. Foram muitos treinos, muita disciplina, muito investimento e muita água. Eu realmente posso dizer que este foi ano molhado! rs E assim caminhei até a metade do ano. Sem propósito pessoal, sem saber direito o que estava se passando dentro de mim e com uma tristeza crescente dentro do peito. Uma tristeza que eu insisti em não olhar.

O campeonato veio, foram muitas alegrias, muito orgulho, muitas emoções. E apesar de ter sido muito engrandecedor estar em uma competição deste nível como treinadora, representando nosso país em um lugar completamente diferente e vendo uma das pessoas que eu mais amo no mundo realizar um grande sonho, ainda assim eu senti um vazio me engolir. Um vazio frio, escuro e completamente estranho.

Foram meses muito difíceis, em que eu tive pouca vontade de ver ou falar com pessoas. Meses onde meus hábitos, meus sonhos, meus desejos foram todos sugados e jogados pelo ralo. A depressão é faceira, e eu, tão colorida e positiva, jamais achei que pudesse sucumbir à algo assim. Por sorte também foram meses onde eu aproveitei o silêncio para ler, para me ouvir e para respirar, descobrindo assim que estas são as ferramentas mais essenciais para que eu (re)encontre a minha paz.

Não posso esquecer que as Eleições Presidenciais tiveram grande contribuição para este meu cenário pessoal. Foram grandes decepções, mas também grandes descobertas. Sobre este assunto, eu vou apenas deixar uma frase que reflete bem quem sou: "Eu não quero acreditar. Eu quero saber"

Neste tempo eu perdi amigos, mas não posso reclamar do apoio que tive dos que permaneceram. Pela primeira vez eu pude testar e ter certeza que uma rede de apoio é o melhor que podemos ter na vida. Regar nossas amizades, cuidar de quem amamos e semear coisas boas, são coisas que eu sempre fiz de graça, pelas minhas próprias convicções do mundo, e que eu nem imaginava que precisaria tanto deste retorno. 

Eu também tive ajuda profissional, e a terapia certamente foi decisiva para encarar com mais seriedade o que eu vinha passando e tratar da maneira certa, com humildade e perseverança.

Tudo isto ainda é refletido hoje. Finalmente olho no espelho e consigo me reconhecer, mas ainda assim, todos os dias surgem coisas diferentes. Não me sinto inteira e nem tenho pressa para me sentir. Mas me sinto mais verdadeira e mais humana do que em todos os demais momentos de minha vida. Em 2018 eu me permiti quebrar tabus, regras, ritos. Eu me permiti ser alguém que eu sempre fui por debaixo dos panos, e alguém que eu nunca nem havia sido. Eu deixei de ser aquela menina tão correta, tão aceita, tão milimétricamente calculada. Eu me sinto uma grande bagunça agora, mas uma bagunça de carne, ossos, lágrimas e risos. Em 2019 só o que eu espero ser infintamente mais livre; correndo, nadando, respirando, viajando e amando (MUITO!).

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Felicidade sem Receita

Eu não sei se isto sempre existiu, ou se este conceito único de felicidade é  coisa moderna. Acho que é. Mas a questão é que eu nunca me encaixei nele. E nem me encaixo agora.

Este conceito que você só pode ser feliz se viajar o mundo. Se for vegetariano ou vegano. Se fizer Yoga. Se dentro de vc houver um espírito livre, good vibes, com um lado que vai largar tudo e sair sem rumo a qualquer momento. 

Que pra ser feliz você tem que ser uma folha em branco para se descobrir em alguma viagem louca numa cultura inexplorada que seus pais não aprovariam. Não sei quando ser feliz se tornou esta ruptura obrigatória de paradigmas. Que ter planos se tornou estar amarrado. Que felicidade genuína passou a ser surpreender-se o tempo todo e não ter expectativas.

Eu sei que a massificação da internet contribuiu muito pra formação deste cenário. Bem como o acesso a viagens, dos lugares mais tradicionais aos mais remotos do planeta. E talvez tudo isto tenha algo de bonito e poético. Algo de criar a si próprio ou mudar o mundo.

Mas o ponto é que não é isto que chamo de felicidade!

Veja bem, eu também quero mudar o mundo. E também quero criar e recriar a mim mesma. E também quero romper paradigmas. Mas eu não estabelecer pra ninguém o que é felicidade, especialmente pq nada pode ser mais pessoal e íntimo do que isto.

Sou rotineira e amo me aprimorar. Sou alguém que não tem preguiça de estudar, de melhorar, de tentar evoluir. Alguém com bastante auto-crítica e alguém pra quem o segredo do sucesso está em seguir um plano e fazer diariamente as mesmas coisas. Alguém que não acredita em bênçãos, milagres, passes de mágica, em boom transformador. Eu acredito em suor, acredito em cair 7 e levantar 8, acredito em respeitar o próximo e acredito em mente quieta e coração tranquilo 💜

Se a felicidade pra você é mundo afora, que você seja feliz mundo afora. Que desbrave, descubra, que viva em paz.

Se a felicidade pra você é se enraizar, lhe desejo que suas raizes lhe ofertem tudo o que for necessário. Que sobre alegria e que viva em paz.

E que todos nós possamos nos recordar sempre que a felicidade é algo pessoal, e que podemos ser qualquer ponto entre as variações acima, ou mesmo fora delas, só não podemos tentar aplicar o que serve a nós para todos os outros. Respeito; vai sempre bem! ☺️🌷