quinta-feira, 8 de junho de 2017

Beauty Surface

Ciente que já perdi a hora da corrida amanhã e que terei que treinar sob sol de rachar, escrevo este post que há tantos dias venho tentando.

No começo ele estava cheio de dor, mas agora, depois de algum tempo e muita reflexão, ele tem bem mais alívio.

Estou em uma fase bem desleixada da vida. Eu pensei em dizer relaxada, mas seria uma visão positiva demais. Adoro estar relaxada e não é bem isto que sinto agora. Estou ainda um pouco tensa, cheia de obrigações que me propus. Mas abandonei algumas e especialmente alguns estigmas que estavam me ferindo demais. Eu, que sempre fui uma insegura-positiva, coloquei energia demais tentando me encaixar em uma ou várias formas que não me cabiam. Em vários conceitos que não diziam respeito a mim. Em uma pauta que eu não era a redatora. Eu fiz isto em muitos momentos da vida, como os amigos mais chegados sabem, mas os últimos tempos foram (bem mais) pesados. Eu tentei ser coisas e pessoas demais, que eu não era, e o único resultado que obtive nesta busca insana foi esmaecer e deixar um pouco de ser eu. Eu, tão colorida e divertida, também tenho um dark side, e este lado sempre tenta agradar, corresponder as expectativas, brilhar arrebatadoramente; tudo para se sentir boa o bastante para receber amor.

Talvez o leitor imagine que sou uma tola; "Amor é de graça Xin! Acorda!". Eu sei. Juro que sei. E eu repito isto pra mim todos os dias. Mas nem sempre é fácil se aceitar. Nem sempre é facil entender que a vida é de fato um cobertor curto e sendo você, com defeitos e qualidades ímpares, você não será o outro.

Hoje me olhei no espelho e tive a certeza que precisava escrever; minha barriga não está definida, estou gordinha pq estou comendo sem pensar muito no plano alimentar. Minha sobrancelha está por fazer, bem como minhas unhas. Não estou depilada, não trouxe belas roupas para a viagem, não tirei nenhuma self no parque esta semana. Não estou me sentindo bonita, e resolvi me permitir isto também; eu não preciso ser bonita o tempo todo. E na realidade, eu não preciso ser nada e nem ninguém. 

Esta é minha grande lição do momento e há algo de muito profundo nisto; há eu mesma, imperfeita, incompleta e verdadeira.

E, dependendo do ponto de vista, isto pode ser bem mais belo =)

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Vida Corrida

Quando você decide começar a correr talvez você ainda não se dê conta da dimensão do mundo no qual você está embarcando. Quando você começa, um par de tênis e muita vontade parecem ser o suficiente. Parece que você não irá precisar de GPS, de acessórios ou lugares específicos. No início, você não tem a menor idéia de que encontrará pelo caminho preguiça, cansaço, lesões ou falta de tempo. E nem imagina que a corrida será como um relacionamento, onde seu grande amor vez ou outra, será entediante, chato e moroso. Quando começa, você não faz idéia que para sustentar esta paixão você terá que abrir mão de muita coisa, e nem imagina que muitos dias você terá que acordar mais cedo do que o sol. Você nem pensa que muitas vezes irá doer, e que de modo geral não será nem um pouco fácil.

Mas quando você escolhe a corrida como esporte você já está ciente disto tudo. Ciente que às vezes terá sol de rachar, que às vezes terá chuva torrencial e que incontáveis vezes haverá vento enrigelante e contra você. Você já sabe que de vez em quando você irá correr de luvas, que em alguns dias viseira nenhuma ajudará suportar o calor, e está preparado por saber que mais dia ou menos dia surgirão assaduras de suor, bolhas nos pés ou cortes de frio. Quando você finalmente escolhe, sabe que haverão muitos momentos em que a cama quente será a sua pior inimiga e também sabe que em alguns outros um copo de água o seu maior sonho. Você tem consciência que muitas festas estarão boas, mas que mesmo assim você terá que dizer tchau bem cedo, com aquele bom e velho discurso de gente chata: amanhã eu tenho treino. 

E você continua. Volta após volta, quilômetro após quilômetro, manhã após manhã.

O que muda de quando você começa a correr até quando você se torna um corredor apaixonado é a escolha. É a certeza de que tudo isto vai acontecer e mesmo assim você quer continuar. E aí percebe que aquele par de tênis e aquela grande vontade continuam sendo as únicas coisas essenciais para que você não pare.

Diariamente eu me pergunto pra que eu corro, e diariamente eu obtenho a mesma resposta: eu não conheço nada que me traga tanto pra dentro de mim. Por que o meu coração bate no rítmo do meu pace e por que a vida faz muito mais sentido quando eu calço meus tênis e corro literalmente atrás dos meus sonhos.