terça-feira, 24 de dezembro de 2019

2019 - Dores, crescimento e autocompaixão

2019 foi um ano difícil pra mim.

Eu vim de uma sobrecarga emocional enorme de 2018, que inclusive dividi aqui. Até 2018 eu me considerava a Mulher Maravilha. Achava que eu sempre ia dar conta, acordava mais cedo, ia dormir mais tarde, aproveitava todos os intervalos. A minha recompensa era realmente dar conta deste tudo tudão que eu julgava tão importante. A minha vida foi por muitos anos uma grande corrida contra o tempo. E eu me sentia útil, importante e especial quando esta conta fechava. Mas de vez em quando a conta não fechava, e eu me punia. Me cobrava. Me considerava incapaz. Doía bastante.

Por muito tempo eu não soube lidar com as falhas. Na realidade eu as rejeitava, fingia que elas não existiam. A minha resiliência me fazia tentar novamente no dia seguinte e por fim, tudo acabava "dando certo". Coloco entre aspas por que uma hora a conta chegava. Sempre chega.

Depois de passar por um grande período de orgulho de mim mesma, das minhas conquistas e de minha trajetória, as coisas ficaram meio insustentáveis, especialmente por que eu insistia em fazer tudo da forma com a qual eu sempre tinha feito, como uma receitinha de bolo.

Enfim, eu comecei a não dar conta. E também aquela correria foi deixando de fazer sentido. Eu mudei o meu ritmo e tudo mudou com isto. Eu passei a gostar cada vez mais do meu tempo sem fazer nada, passei a querer fazer tudo com mais calma, passei a gostar mais da contemplação. Alguns podem pensar que isto foi culpa da cannabis. Nem nego, até que pode ser. Mas o fato é que eu enxerguei valor nos detalhes quando eu passei a desacelerar, a apreciar coisas que na pressa eu nem via e assim, a vida que eu levava passou a fazer cada vez menos sentido.

Bem, chegou a mim uma boa alma, uma das minhas melhores amigas, a princesa com quem eu divido meus giz de cera de colorir a vida e me deu a mão. Me mostrou que eu precisava de ajuda e que eu precisava mudar algumas coisas no caminho. E assim se desenrolou o começo da minha nova forma de ver a vida, com a terapia.

Tudo isto em 2018, e eu levei 2019 inteiro para entender de verdade tudo o que tinha acontecido.

2019 foi um ano de reflexão e resgaste de mim mesma. Um ano dolorido, onde eu me testei, onde eu me perguntei, onde eu me descobri. Mas foi o ano em que eu fui sincera comigo mesma ao extremo, onde eu joguei muita coisa fora, incluindo relacionamentos que já não faziam mais sentido. Um ano de coragem.

Foi o ano em que eu mais exercitei a minha tolerância comigo mesma, até pq, se eu não aceitasse minhas falhas neste ano tão duro, eu não teria conseguido chegar ao fim dele. Foi um ano em que pela primeira vez na minha vida eu quis deixar de viver, e isto é tão difícil de admitir para uma princesa colorida que, ao escrever, eu sinto um misto de orgulho e vergonha pelo meu processo e pela pessoa que eu venho me tornando.

Em 2019 eu tive vontade de esfregar os fatos na cara de um monte de gente. Os fatos políticos também, é óbvio, mas nem é só deles que falo. Tive vontade de mostrar pra um monte de gente o quão hipócrita elas eram, o quão egoístas ou levianas. Mas não fiz nada disto (ou talvez tenha feito bem pouquinho, vai). Eu aprendi com estas experiências e passei a respeitar mais a trajetória e o aprendizado do outro, assim como também a me colocar no lugar dele. Exercitei muito a compaixão e a autocompaixão.

Eu nem teria como negar que eu sucumbi em 2019 e que parte de mim morreu. Mas eu também não teria como negar que eu cresci um bocado, que algo também nasceu. Que eu priorizei a minha saúde mental, que cada dia que passa eu sou mais autêntica, mais verdadeira e mais dona de mim.

Eu finalmente estou encontrando respostas para muitas das minhas dúvidas, mesmo que elas não sejam exatamente as que eu gostaria de ouvir. Relendo meus textos antigos, vejo o quanto o meu processo e o meu progresso fazem sentido. O quanto eu estou nesta caminhada há bastante tempo. Vejo que estou juntando coragem para dar um salto pro qual eu nunca estarei preparada, mas que eu tenho cada dia mais certeza que preciso dar.

Eu tô bem mais sensível em minhas emoções, mas também tô bem mais leve. Eu nunca fui tão eu quanto sou hoje.

Eu espero que 2020 seja um ano de mais "quentinhos no coração". De pertencimento, de amigos, de boas notícias, de solidariedade, de conquistas, de amor. Um ano mais doce, menos desafiador emocionalmente, mais tenro. Eu adoro montanhas russas, mas acho de verdade que chegou a hora de descer e pegar uma Maria Fumaça pra um passeio tranquilo em meio das árvores.

Estou convicta que quero mais saúde e mais paz.