sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Entreabrir

Não sei quando foi que eu me tornei uma chata, mas não acho que eu tenha sido sempre assim. Verdade que eu nunca fui um poço de segurança, com aquela auto-estima que aparentam os lutadores de boxe ou as modelos na passarela. Eu nunca fui a mais engraçada da rodinha, nem a mais descolada, tampouco a mais bonita. Em algumas stiuações eu até fui uma das mais inteligentes,  mas convenhamos que isto não tem um status muito valioso quando somos adolescentes. Enfim! Eu sempre fui uma menina mediana, mas eu era muito espontânea, leve e descontraída. Apesar dos encargos de princesa aos quais eu sempre fui submetida (e não estou reclamando, pois aprendi a apreciá-los!), eu sempre falei um pouco alto, eu como de boca aberta e de vez em quando meio rapido. Eu sou a rainha das gafes e um tiquinho desastrada. Sim, deste jeito moleca e espontânea eu cresci sendo uma princesa atrapalhada, um pouco menina, um pouco arteira e muito Cinthia; eu cresci bem feliz.

Aos poucos a sociedade foi me colocando inúmeros freios e modos, como colocam em todo mundo. Nunca pergunte quanto alguém ganha, nunca aborde temáticas polêmicas, nunca dê risada alto, mesmo que seja muito engracado. Isto veio só quando fui me tornando adulta, aliás, veio mesmo quando me tornei Empregada Pública. Quando eu era professora e dava aula de meias em um trampolim ou num Studio de Pilates, eu podia ser mais levada, mais traquina, fazer mais piada e podia errar bem mais do que posso hoje. Sim, eu não reclamo da mudança de emprego, para mim é claro que este trabalho me aproximou de meus sonhos. Aliás, financiou grande parte deles. E é um tema que eu já abordei bastante sobre especialmente no quesito escolhas e renúnicas.

Entretanto, eu me lembro com saudades da Cinthia menina que eu era; menos pressionada e mais leve. Certamente eu era mais ingênua e ignorante, mas o que me chateia mesmo, e é o assunto principal deste post: quando foi que me tornei uma pessoa fechada?

Nos últimos meses eu percebi o quanto eu me coloquei em uma posição defensiva. Ando me justificando demais, explicando demais, dando satisfação demais. Muito mais do que eu gostaria ou julgo certo. Como se já não fosse duro o bastante ter perdido uma de minhas melhores carcateristicas, a espontaneidade, eu tenho me perguntado pq tenho tentado tanto ser tão correta e perfeita. Pq tenho tentado tanto não somente acertar, mas pq passei a achar tudo o que é diferente tão errado ou ameaçador.

Bem, por sorte, mesmo com todas as mudanças da vida, eu continuo muito questionadora. Eu não aceitei simplesmente ver sair de minha boca comentários tao ortodoxos, tao impregnados de pré-conceitos, tão cheios de moral e bons costumes; eu quis pensar. E depois de uma profunda e bela reflexão, tenho o meu parecer; julgamos e condenamos o diferente não exatamente por discordarmos. Fazemos isto por medo. Medo de o caminho que escolhemos ser diminuído ou menos valoroso. Medo de o que abrimos mão possa vir a ser uma escolha melhor. Medo de quem amamos admirar características que não possúimos. Medo dos padrões sociais flutuantes e das regras do jogo. Medo de nos arrepender do que deixamos para trás.

Bem, eu não quero ser uma pessoa fechada e peço desculpas a quem viu esta terrível Cinthia, assustada e temerosa, julgando e, muitas vezes, condenando o diferente. Era uma Cinthia apenas tentando se proteger do jeito errado. Mas eu continuo aqui, aprendendo com a dor e delícia de ser quem eu sou, e com os caminhos que escolhi. 

Como dizem por aí: "Para os erros há perdão. Para o fracasso, chance. Para amores impossíveis, tempo". E repetindo o que sempre digo: pra quem sabe olhar para trás, nenhuma rua é sem saída. Então abre a porta e janela; eu ainda tenho muito a ver e aprender. Com quem é estranho, com quem é diferente, com todo mundo! :)

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